A conta da sua vida

 

 

Se pudéssemos precificar, quanto custaria uma hora de sua vida? Você a venderia a outro por um preço módico? E se levássemos em conta as horas em que fica dormindo, assistindo aos programas da televisão, divertindo-se com seus familiares ou em horários de lazer? Quanto valeria tudo isso? De tempos para cá, muitos estudos sobre o modo por meio do qual as pessoas alocam o tempo de suas vidas vêm sendo realizados. Analisemos. Reflitamos.

Um dos artigos mais completos que encontrei sobre o tema foi escrito em Chicago no ano em que nasci — 1981 — com o título The Use of Time: An Integrated Conceptual Model. Nele, os autores Laurence Feldman e Jacob Hornik afirmam que a natureza finita do tempo requer, necessariamente, que o indivíduo faça boas escolhas conforme sua percepção de utilidade. Resumindo: o tempo é curto e a vida, danadinha, desenhada pelas escolhas que fazemos. Essas escolhas, por sinal, dizem esses caras, podem ser classificadas em dois grupos: o grupo de trabalho (work) e o outro, oposto, sem tradução literal, de não-trabalho (nonwork). O primeiro grupo — de trabalho — possui uma atividade somente: o emprego. Já o segundo, três atividades: (1) as necessidades, (2) o trabalho que se faz em casa e o (3) lazer.

O emprego é o tempo pago, geralmente por outros, capaz de fazer com que o indivíduo abasteça sua casa, tenha dinheiro para sair com amigos, compre presentes de Natal ou aquelas tralhas que enfia no apartamento, por sinal também comprado com o tal dindim. É a prata, a moeda de troca. (…) As necessidades, tais como comer, dormir, etc…, são atividades constantes de auto-manutenção. Aliás, como não poderia deixar de ser, o tempo gasto em atividades desse tipo são relativamente constantes; afinal, não se espera que alguém fique muito tempo sem almoçar, sem cair no sono ou ir ao banheiro, não é mesmo? (…) O homework — ou melhor, o trabalho feito em casa — pode (ou não) ser remunerado e rouba um tempinho. É aquele no qual o indivíduo trabalha porque se sente obrigado (como acontece quando leva o resíduo de tarefas não-cumpridas do emprego ou da faculdade para casa) ou porque vê nele uma alternativa financeira ao emprego (como acontece no caso da professora que, mal remunerada, enrola coxinhas em casa e vende às centenas). (…) Por fim, o lazer — tempo destinado ao entretenimento em que o indivíduo está livre de compromissos e/ou responsabilidades. É, na verdade, o momento mais esperado por muitos, geralmente destinado aos passeios no shoppings, ao sol da praia, à TV ou ao consumo de final de semana.

Agora, façamos a conta.

Imaginemos um ser humano comum, habitante de São Paulo: 8 horas de sono (necessidades), mais 8 horinhas no trabalho (emprego) e, por fim, 8 livres (lazer ou homework). 1/3 para cada bloco. (…) Bom, imaginemos também que esse indivíduo — comum — esteja há 10km do trabalho e, prejudicado pelo trânsito, demore 30 minutos para ir, mais 30 para voltar. 1 hora. E, sendo assim, como não pode excluir 1 hora do bloco emprego, vai infeliz a diminuir 1 hora de seu tempo livre OU de seu sono. O emprego, nesse caso, ganharia uma hora.

Na nova conta — e levando em consideração que a hora no trânsito tenha sido supostamente alocada no bloco de tempo livre — , teríamos um indivíduo com 9 horas destinadas ao emprego, 7 horas livres e 8 horinhas para as necessidades básicas. (…) Mas e a HORA do almoço no trampo? E aquela outra horinha destinada ao banho, às vestimentas, ao café da manhã e, no caso das mulheres, à maquiagem? Muito embora estejam, na prática, relacionadas ao bloco de necessidades, todas essas atividades estão voltadas exclusivamente ao emprego. É como se existisse — e existe! — uma espécie de ritual de preparação para o trabalho. Mais 2 horas para ele.

Na prática, de segunda a sexta-feira, 12 horas da vida são destinadas ao trabalho. Metade de todo um dia. E aí, se pensarmos que uma semana tem 168 horas,  estamos falando de 36%, ou seja, mais de um terço de TODO o tempo de uma semana destinada ao emprego. 60 horas. Então somamos a isso as 7 horas, em média, de sono diário — mais 29% vão embora! — e temos 65% do tempo total. Resumindo: dos 365 dias de um ano, aproximadamente 234 são destinados exclusivamente ao emprego e ao sono. Quase 8 meses!

Ah, e supondo ainda que o indivíduo não esteja tão satisfeito com seu emprego, seria como se vendesse 8 meses de todo um ano (ou pior, 2/3 da vida) para alguém, para uma empresa, e ainda assim não fosse feliz. O pior: tem gente que se aposenta nessa vidinha. #VDM É TODA UMA HISTÓRIA!

(…)

Quanto custa uma de suas horas? Você a vende por um preço módico?
Reflita. Faça as contas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *